Mais do que uma alternativa de sucesso no cárcere, o interno Cícero Alves, acadêmico do sétimo período de Administração pela Unopar, mostrou, uma realidade desconhecida para maioria: Alagoas tem um presídio de referência no país pelas práticas de reintegração social. O interno esteve na Universidade Federal de Alagoas (Ufal) para apresentar seu artigo científico aos acadêmicos.
Com referências teóricas e muito propriedade, ele falou sobre a gestão do Núcleo Ressocializador da Capital (NRC), que transmite valores dignos aos custodiados, sobretudo, no âmbito educacional. Em sua defesa, a história das prisões, os perfis e rotinas dos apenados e os desafios superados no NRC.
Agentes penitenciários lotados na Gerência de Educação, Produção e Laborterapia (GEPL) e no Núcleo acompanharam Cícero Alves. Ao final a titular da Gerência, Andréa Rodrigues, afirmou que a educação é uma ferramenta essencial para reintegração social dos apenados alagoanos.
“Esse momento representa a realização de um sonho e tem um alcance gigantesco para todos que promovem a educação no cárcere, pois é a comprovação de que a política desenvolvida pela Ressocialização está no caminho certo. Estamos muito satisfeitos com a aprovação do artigo”, salientou Rodrigues.
“O artigo não é um simples relato de experiência. Trata-se de um trabalho fundamentado com obras de autores conceituados e validado pelo coletivo do grupo de pesquisa no âmbito carcerário. Citua, problematiza e contextualiza seu objetivo”, enalteceu a professora de pedagogia Conceição Valença.
“Diante do que é mostrado nos meios de comunicação, que são as unidades prisionais superlotadas, com rebeliões, entre outros problemas; esquecemos de olhar para projetos que dão certo. Alagoas é o único estado do País que tem uma unidade executando na metodologia do NRC, que no passado já foi palco de muitos motins, fugas e rebeliões”, afirmou o autor do artigo, Cícero Alves.
Alternativas de Sucesso no Sistema Prisional – Cícero Alves explicou ainda que a descrença geral na efetividade do processo de reintegração social o motivou a elaborar o artigo científico. “Ouvi um procurador de justiça afirmar que não existe ressocialização. Com o meu trabalho mostro há uma unidade prisional com recursos para reinserção social acontecer”, ponderou Alves.
Evolução – Ao chegar no Complexo Penitenciário, o reeducando possuía em sua bagagem o Ensino Médio completo e algumas capacitações profissionais. Oito anos depois, Alves se orgulha por ter participado de 91 cursos profissionalizantes. Alves ressalta ainda que sua vida mudou quando decidiu ter como foco principal os estudos no presídio.
“Após participar do Enem e alcançar uma boa pontuação, consegui, através da Seris, a oportunidade de ingressar no Ensino Superior pela modalidade de ensino à distância. Atualmente, no Núcleo, além de mim, outros 13 reeducandos têm a mesma chance de mudar de vida. Agradeço ao titular da Seris, coronel Marcos Sérgio, pela evolução como profissionais”, lembrou.
Alves afirma que quando sair do cárcere terá orgulho da sua trajetória. “Tenho convicção que todas as dificuldades enfrentadas são passageiras. Ao retornar para o convívio social, terei orgulho em mostrar que trabalhei e estudei para vencer na vida. Agora, sonho em ver meu artigo publicado em um livro e planejo o Mestrado em Administração Penitenciária e Execução Penal”.