Raridades de autores alagoanos, documentos centenários, fotos antigas. Na Casa do Penedo, museu localizado na histórica cidade ribeirinha, tudo isso pode ser encontrado ao alcance dos olhos. O espaço é o trabalho de uma vida desenvolvido pelo psiquiatra Francisco Alberto Sales. Idealizador, fundador e mantenedor da entidade, ele morreu ontem, 18, aos 78 anos.
Sales, que se formou na primeira turma de Medicina da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), lutava contra um câncer e estava em Brasília, local onde passou boa parte da vida. A Prefeitura de Penedo, onde ele nasceu em 19 de novembro de 1939, decretou luto oficial de três dias. Tanto o velório quanto o sepultamento, porém, acontecem hoje, 19, no Distrito Federal.
Apesar do trabalho como psiquiatra na capital federal, era às margens do Rio São Francisco que se dedicava à uma atividade bem diferente: a preservação da memória e da cultura alagoanas. Para isso, fundou em 1992 Fundação Casa do Penedo. Para a instituição, foi escolhido um lugar especial: a casa em que morou com os pais e os irmãos, no Centro Histórico do município.
Boa parte dos bens que guardava ali foram adquiridos com recursos do próprio bolso. Doações também ajudaram a montar o acervo, que tem, por exemplo, entre 800 e mil livros do político Carlos Lacerda e com direito a carimbo e ex libris (expressão para associar o livro a uma pessoa ou biblioteca) dele, além de edições de ‘Geografia alagoana; descrição física, política e histórica de Alagoas’, de Tomás Espíndola.
A publicação do historiador Moreno Brandão contando a história do Baixo São Francisco também pode ser encontrada no local. “Para mim, o mais raro é o que vem de Penedo, daqui. A biblioteca é especializada em Brasil, Nordeste, Alagoas e Baixo São Francisco. Obras que tratam disso são consideradas importantes”, disse Sales, em entrevista ao B no ano de 2014.
Nessa época, ele desenvolvia, por meio de uma parceria com o programa Petrobras Cultural, o projeto ‘Conhecer para preservar’, que, voltada para a área de preservação, foi o foi a única – entre 260 inscritos – contemplado em Alagoas. A iniciativa tinha em vista um levantamento técnico do acervo, que tonca com cerca de 50 mil publicações. Do total, aproximadamente três mil ficam na sede.
Outra parte ficava na residência do próprio Francisco, que comprou com recursos próprios o Chalé dos Loureiros, também em Penedo, para que o prédio histórico fosse transformado no Museu do São Francisco. A obra de restauração, que custou R$ 2,7 milhões, contou com investimentos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
O local foi entregue no último sábado, 15, quando o médico foi homenageado por seu incessante trabalho de resgate e preservação da história da cidade e do São Francisco. “Quando entrei no Iphan, o presidente Aloísio Magalhães dizia e repetia que quem guarda o patrimônio são as pessoas, não são as instituições e o Sales é o grande guardião da memória de Penedo”, afirmou a presidente da entidade, Kátia Bogéa.
Devido às condições de saúde, o homenageado não pode estar presente. A Fundação Casa do Penedo emitiu uma nota de pesar pela morte. “Além do trabalho e à família, dedicou sua vida ao resgate e conservação de nossa história, missão reconhecida publicamente na entrega do Chalé dos Loureiros”, disse a instituição sobre o psiquiatra, que também era membro do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas.