Pescar é um trabalho minucioso e de paciência: tem que lançar o anzol ou a rede e aguardar um tempo para obter resultado. Mas, com uma ajudinha, essa tarefa fica mais fácil. Em Laguna, no litoral sul de Santa Catarina, não bastasse a generosidade da natureza, que atrai várias espécies de peixes e camarões para a região, os pescadores artesanais contam, ainda, com uma “mãozinha”, ou melhor, uma barbatana, de outros renomados profissionais da pesca: os botos nariz-de-garrafa, também conhecidos como botos pescadores.
Os animais literalmente apoiam os pescadores na execução do trabalho e a cooperação, que já dura 150 anos, é uma parceria de sucesso para todos os envolvidos. Funciona da seguinte maneira: no ato da pesca, os pescadores preparam suas redes e colocam-se à beira do canal, a pé ou de canoa. Ao perceber a presença dos humanos, os botos cercam os cardumes que entram e saem da lagoa e os afugentam na direção dos pescadores. Os peixes que escapam das redes viram presa fácil e vão parar no estômago dos botos.
Nos meses de junho e julho, período de pesca da tainha, os botos e seus amigos pescadores são as atrações da região. No verão, os animais costumam aparecer no início da manhã, em dias de águas calmas, trazendo verdadeiros espetáculos com saltos.
A parceria de sucesso, além de render frutos aos pescadores e aos botos, também movimenta o turismo na região. Viajantes vão até Laguna para olhar de pertinho o show dos profissionais da pesca (e não estamos falando só dos pescadores humanos). A cidade conta com o título de Capital Nacional do Boto Pescador e a pesca com o auxílio dos animais recebeu o certificado de registro de patrimônio cultural imaterial de Santa Catarina. Neste contexto, o trabalho em conjunto entre ser humano e boto é marcado como conhecimento enraizado no cotidiano da comunidade.
Segundo a prefeitura de Laguna, um levantamento da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) apontou 53 botos vivendo na região da Lagoa Santo Antônio dos Anjos até as proximidades da ponte Anita Garibaldi. Destes, 22 cooperam com os pescadores na região dos Molhes e Centro Histórico. Os botos estão catalogados no Departamento de Pesca da UDESC e são reconhecidos por marcas nas barbatanas superiores.