Guardanapos de pano com padrão em xadrez, loiças de barro, tachos de cobre e um couvert que põe na mesa uma bolinha de Mafra com molho de pica-pau, azeitonas e manteiga dos Açores: o Pica-Pau, novo restaurante do grupo Plateform no Príncipe Real, diz logo ao que vai, sem rodeios. Nele, o chef Luís Gaspar foca-se numa abordagem respeitadora do receituário tradicional português, sem lugar para reinvenções.
No espaço do antigo restaurante Pesca, o também chef do Sala de Corte – templo para carnívoros no Cais do Sodré – assina uma carta relativamente curta, onde, à semelhança de qualquer restaurante tradicional, há uma série de pratos do dia fixos. Segunda-feira é dia de açorda de gambas, terça de mão de vaca com grão, à quarta há filetes de pescada com arroz de tomate e à quinta há cozido, por exemplo.
Numa altura em que surgem cada vez mais restaurantes de todo o tipo de cozinhas menos a portuguesa, em Lisboa pelo menos, regressar às origens nacionais pode ser mais difícil do que aparenta. Por isso, no trabalho de preparação das receitas o chef socorreu-se do conhecimento do gastrónomo Virgílio Gomes e de dois livros basilares, como o “Cozinha Tradicional Portuguesa”, de Maria de Lourdes Modesto.
À mesa, o verbo petiscar é conjugado, por exemplo, com presunto de porco, queijo de Nisa, saladinha de polvo, pastéis de bacalhau, rissóis de leitão e, claro, pica-pau. Nos principais há um marcante bacalhau à brás e um polvo à lagareiro com batata a murro, cebolada de pimentos e broa frita, inspirado na receita da avó do chef. As sobremesas são ditas pela equipa de sala, enquanto se ouve música portuguesa.
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