Depois de três anos apresentando prejuízos, a companhia aérea estatal portuguesa TAP, anuncia que teve um lucro de 111 milhões de euros no 3º trimestre deste ano. O comunicado foi enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). Os bons resultados, na verdade, foram impulsionados pelos aumentos dos valores das tarifas, ou seja, das passagens aéreas, como diz o comunicado da empresa: “Está situação foi predominantemente impulsionada pelo aumento das tarifas e maior capacidade, resultando num aumento das receitas do segmento de passageiros”, em 633,4 milhões em relação ao 3º trimestre de 2021 para 1.001,9 milhões.
Esta situação de aumentar os valores das passagens aéreas já causou uma reação no mercado junto aos operadores de turismo e também no setor hoteleiro que reagiu se unindo para viabilizar o fretamento de dezenas de voos para vários destinos, principalmente para o Brasil e o Caribe (Caraíbas).
Contudo, o comunicado da TAP faz um jogo de retórica contraditória argumentando, através da linguagem “économiques”, que os resultados foi “impulsionado por fortes resultados operacionais e efeitos positivos da implementação da política de cobertura cambial”, ou seja foi pressionando com passagens mais caras que conseguiram ter um bom resultado no trimestre.
Entretanto, segundo analista do mercado de turismo e jornalistas especializados na atividade que acompanham de perto as estratégias e artimanhas usada para mascarar a situação, acreditam que no final do ano a situação da TAP pode piorar, com a possibilidade dos voos fretados, para o Brasil, principalmente se tornarem semanais. Os voos fretados tornam as passagens pelo menos 40% mais baratas.
Números apresentados
No mesmo período de 2021, a companhia aérea tinha registado prejuízos de 134,5 milhões de euros. A TAP diz em nota à imprensa que registrou entre julho e setembro “um recorde histórico de receitas operacionais”, chegando aos 1,1 mil milhões de euros, “excedendo os níveis pré-crise em 7,5%”, o que lhe permitiu alcançar “um desempenho financeiro sem precedentes”.
“Esta situação está relacionada com a atual estratégia de gestão do risco financeiro da TAP, que visa reduzir a volatilidade dos impactos das variações cambiais sobre a Demonstração de Resultados. Mesmo excluindo a mencionada melhoria na política de cobertura cambial, o resultado líquido permanece positivo em 31,8 milhões de euros”, diz ainda o comunicado.
A presidente da TAP, a francesa, Christine Ourmières-Widener, tenta afirmar que a companhia “está a confirmar a solidez do seu desempenho no terceiro trimestre, com todas as métricas financeiras acima dos níveis pré-crise, apesar do aumento dos custos de combustível”, embora no Brasil vários estados que recebem os voos regulares da TAP, reduziram o percentual do ICMS ( impostos estaduais sobre os combustíveis e o governo federal zerou a cobrança), fato que deveria se refletir também na redução dos valores das passagens vendidas no Brasil, e que já deverá ser pauta do próximo Governo Federal em exigir que as companhias aéreas internacionais baixem os valores cobrados aos passageiros.
Contudo, a presidente da TAP diz que “apesar de ter gerado um efeito positivo de 15,9 milhões de euros, a estratégia de cobertura apenas conseguiu reduzir de forma marginal o efeito dos preços de mercado do ‘jet fuel’ mais elevados, que contribuíram com 153,0 milhões de euros para o aumento do custo com combustível”.
A procura para o 4.º trimestre “mantém-se bastante forte, suportando as expectativas de um bom resultado acumulado até final do ano”, refere a gestora, acrescentando: “A visibilidade para o próximo ano é, no entanto, ainda limitada e, atendendo às incertezas da atual conjuntura, é cada vez mais crucial que mantenhamos o foco no nosso plano estratégico, o qual tem, até agora, provado ser eficaz.”
A nota da TAP diz ainda que a posição de liquidez da companhia aérea portuguesa “é sólida”, com 775,1 milhões de euros em caixa e equivalentes no final do trimestre.
“Os próximos passos decisivos a tomar são: levar a cabo discussões produtivas com os nossos parceiros laborais para a criação de Acordos Coletivos de Trabalho mais modernos, melhorar as nossas operações e a qualidade do nosso serviço com o envolvimento de todos os ‘stakeholders’, a constante negociação de todos os nossos contratos com terceiros e a cuidada preparação do próximo ano”, declarou a francesa Christine Ourmières-Widener.
Os números apontam que o número de passageiros transportados no 3.º trimestre duplicou, em comparação com o mesmo período de 2021, atingindo 85% dos níveis de igual período de 2019.
“Adicionalmente, durante este período, a TAP operou uma vez e meia o número de voos de 2021, ou 81% das partidas de 2019”, diz a nota.
As receitas operacionais foram 2,5 vezes superiores às do mesmo período do ano passado, aumentando de 657,3 milhões de euros para 1.118,9 milhões, representando 107% das receitas operacionais do 3.º trimestre de 2019.
Nossa reportagem está aguardando uma resposta da assessoria da TAP no Brasil para saber qual a participação do fluxo de passageiros brasileiros nos “bons resultados” obtidos pela estatal portuguesa e porque os preços das passagens aéreas do Brasil para Portugal não foram reduzidos, já que o combustível de aviação também foi beneficiado com a redução do ICMS. Estamos aguardando.