As leis do mercado estão a determinar uma aposta em produtos residenciais de luxo, onde o preço por metro quadrado atinge valores mínimos de 12 mil euros. O segmento regista uma elevada procura e apresenta-se imune ao atual contexto económico. Tanto portugueses como estrangeiros veem estes imóveis como um investimento seguro e de garantida valorização. São “uma moeda refúgio” em momentos de crise, explica Ricardo Costa, CEO da Luximos Christie”s. Neste cenário, os promotores imobiliários estão a investir em novos projetos. As apostas mantêm-se em Lisboa e no Algarve, mas o Porto e a costa alentejana estão a ganhar importância.
Exemplo da forte dinâmica deste segmento de mercado é a compra destes imóveis ainda em planta. O último projeto da Fercopor em Vila do Conde ficou três meses no mercado. E os da Boavista, no Porto, superaram todas as expectativas. Segundo Mário Almeida, administrador da promotora, 70% das frações do Enlight foram vendidas em mês e meio, e o Pure tornou-se o empreendimento com maior procura e vendas mais rápidas da história da Fercopor. Em apenas duas semanas, foram adquiridos 30 dos 34 apartamentos. Esta significativa demanda conduziu a empresa a reforçar a oferta de produto na Invicta e a expandir para novas geografias. A carteira de investimentos passou a integrar Vilamoura, onde vai desenvolver dois projetos, e Lisboa. De acordo com Mário Almeida, o pipeline atual da Fercopor ascende a 190 milhões de euros.
Como sublinha Patrícia Barão, que lidera o departamento de residencial da JLL, o segmento alto é menos sensível às subidas da inflação e dos juros, recorre menos ao financiamento bancário e tem no imobiliário um refúgio das suas poupanças. Estas são as razões que explicam o reforço da aposta dos investidores nos produtos premium. E para evitar contratempos devido ao contexto económico verifica-se até “uma mudança de rumo de alguns promotores, que tinham inicialmente os seus projetos mais orientados para o mass market e que estão agora a reajustar o foco para o segmento mais alto”, revela Patrícia Barão.
A Vanguard Properties está a equacionar reconverter um projeto pensado para as classes média e média-alta que, devido às demoras no licenciamento, ao aumento das taxas de juro e à subida dos custos de construção, tornou-se “muito desafiante”, admite José Cardoso Botelho, CEO da promotora. “Felizmente, uma vez que este projeto se insere numa localização com bastante potencial, será reconvertido, havendo ainda em cima da mesa a hipótese de o revender”, adianta. É um caso único no pipeline da empresa que irá lançar nos próximos meses os empreendimentos Terraços do Monte, TR79 e Lisboète, acelerar a oferta no Muda Reserve e continuar a desenvolver as Terras da Comporta. Este ano, o investimento ascenderá a 125 milhões de euros.
A costa alentejana tornou-se o novo paraíso para os promotores imobiliários, depois do foco dos últimos anos em Lisboa. A Príme Portugal está a desenvolver projetos em Melides, local que Frederico Rosales, diretor da promotora, descreve como um recanto de “autenticidade, beleza natural e qualidade de vida”. A Mexto, empresa que também se distingue no produto imobiliário de luxo, vai lançar “muito em breve o Alento, um projeto turístico localizado no triângulo Comporta-Melides-Grândola”, num conceito de resort rural de muito baixa densidade, com um hotel e onze moradias. Também este ano conta lançar no Meco um complexo de apartamentos e moradias. Miguel Cabrita Matias, administrador da Mexto, revela que tem ainda em carteira a reabilitação de um edifício do séc. XIX, no Castilho, em Lisboa. Estes três projetos envolvem um investimento de 80 milhões de euros. Já a Príme, que já assegurou a venda total do Liberdade 49 e 60% do BOW 123, ambos em Lisboa, prepara-se para apresentar um projeto em Cascais, que pretende ser “um marco no desenvolvimento de habitação de luxo em Portugal”, sublinha Frederico Rosales.
Lugar ao sol
Para o diretor da Príme, a exclusividade destes imóveis e a sua escassez no mercado criam uma dinâmica de procura, independente das flutuações económicas. São imóveis vistos como ativos tangíveis que podem preservar o seu valor ao longo do tempo. E este nicho de mercado, que atrai na mesma medida tanto portugueses como estrangeiros, está também a chamar a atenção das agências de mediação imobiliária. A norte-americana The Agency, especializada no segmento de luxo, foi a última grande estreia no mercado português. E entrou em força. Ayres Neto, sócio-gerente, revela que em dois meses de atividade a agência angariou imóveis no valor de dois mil milhões de euros, quando a estimativa para o primeiro ano era de 500 milhões. O ticket médio ronda os 1,6 milhões, mas o portefólio integra ativos de mais de 20 milhões.
A concorrência no setor da mediação é elevada e todos procuram o seu lugar ao sol. São inúmeras as agências, sendo que se verifica agora uma procura de especialização no segmento premium. A rede de origem norte-americana KW acaba de trazer a sua insígnia Luxury para o país para “oferecer o nível de qualidade de serviço que é procurado neste tipo de segmento” e também para usufruir da sua notoriedade junto dos investidores americanos em Portugal, justifica Marco Tairum, CEO da marca. A consultora JLL está a preparar o lançamento de um serviço premium para imóveis especiais, quer ao nível da angariação quer da comercialização. “Este será um patamar acima de tudo o que existe atualmente no mercado”, garante Patrícia Barão. Já a Luximos Christie”s, cuja operação estava centrada no Porto, Norte de Portugal e Vilamoura, decidiu este ano estender a sua presença a Lagos. A Castelhana, imobiliária a operar no segmento de luxo, considera que o mercado oferece espaço para diversas agências, mas admite a possibilidade de ocorrer um movimento de consolidação no setor. O mercado é finito e o que distingue as marcas de mediação é a qualidade dos serviços que prestam.
Texto e foto: Dinheiro Vivo