A Embratur, juntamente com o compositor, músico, escritor e imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL) Gilberto Gil, lançaram dois roteiros turísticos do projeto Rotas Literárias durante o Web Summit Rio 2024, ontem, 17. Guiadas por aplicativos de celular em mais de um idioma, as caminhadas pelo Rio de Janeiro (RJ) levarão os turistas por páginas de livros, crônicas, poesias, curiosidades e músicas de expoentes da literatura brasileira como Machado de Assis, Clarice Lispector, Carlos Drummond Andrade, Lima Barreto, Tom Jobim e Vinicius de Moraes.
O Rotas Literárias usa a tecnologia para transformar cenários e personagens da literatura em atrativos turísticos. Os roteiros do projeto do EmbraturLAB foram desenvolvidos pelas startups Que Mais Tem Lá? (QMTL) e Glocal Audioguide, e foram apresentados por Gil e pelo presidente da Embratur, Marcelo Freixo, durante debate realizado no palco principal do Web Summit Rio. A Prefeitura do Rio de Janeiro, através da Riotur, também é parceira do projeto.
Em sua fala no lançamento, Gilberto Gil destacou a importância de usar a tecnologia para informar e conectar as pessoas. “Nosso destino é informar ao mundo uma nova forma de encarar a linguagem e o convívio entre as pessoas. E o Brasil tem que dar exemplo, para o mundo, do convívio harmônico na sociedade. E temos todos o instrumental que nos reúne, que são as novas tecnologias”, disse o compositor de ‘Pela internet’.
“Então, a contribuição que um país como o Brasil pode dar para esse novo somatório, para essa nova construção de uma realidade que reúna, na forma mais harmônica possível, os povos, todos os povos do mundo, é uma contribuição extraordinária. O Brasil já sabe de si, já sabe que tem um jeito, já sabe que tem uma bossa, já sabe que tem uma série de coisas que começam a ser apreciadas, desejadas pelo mundo”, continuou o artista.
Um novo olhar
De acordo com Freixo, o Rotas Literárias promove um novo olhar sobre os destinos turísticos e mostra o potencial da inovação para melhorar o país. “A pessoa pode ir para o Rio de Janeiro para visitar o Pão de Açúcar, o Cristo Redentor, e vai ao centro conhecer Machado de Assis, Lima Barreto, um pouco da nossa história, o Cartola, o Noel [Rosa], conhecer a música, saber mais do Gilberto Gil, uma grande identidade brasileira, uma das maiores expressões, que está aqui no palco com a gente, e tantas outras que a gente tem na cultura”, destacou.
“A rota literária é uma coisa que eu percebo há muito tempo. Você tem a rota de Dostoievski, você tem a rota de Agatha Christie, a rota de Victor Hugo, muitas rotas pelo mundo que dialogam com uma literatura extraordinária. Em Lisboa, tem a rota de [José] Saramago, tem Fernando Pessoa, e o que a gente está fazendo é trazer a tecnologia e a inovação para fazer com que a gente possa ter georreferenciamento e a gente possa olhar para o centro da cidade a partir de personagens da nossa literatura”, listou.
E o trabalho de desenvolvimento do turismo literário a partir da tecnologia continuará, segundo Freixo. “Existem muitas rotas literárias pelo mundo. O que estamos fazendo aqui é trazer a tecnologia e a informação para que a gente possa olhar para o Rio a partir da nossa literatura. Com o celular na mão as pessoas vão poder caminhar nas duas rotas literárias e descobrir o que há de nossa literatura pelas ruas da nossa cidade. Esse é um projeto que lançamos hoje no Web Summit e que será ampliado para outras cidades”, adiantou.
Machado de Assis
Desenvolvida pela plataforma digital QMTL em parceria com a plataforma de comunicação cultural Ouça a Cidade, a Rota Literária Machado de Assis usa um aplicativo de celular com georreferenciamento para levar o turista por um roteiro lúdico no Centro Antigo do Rio. No trajeto, que parte da Academia Brasileira de Letras, o turista descobre a capital carioca contando passagens da vida e também da obra do escritor e seus personagens. A startup usou voz gerada por inteligência artificial, em português e em inglês, além de efeitos sonoros para guiar o visitante.
A QMTL usa a tecnologia para incentivar turistas a viverem experiências autênticas em quatro eixos: patrimônio cultural, gastronomia, arte e cultura, além de natureza. A partir da plataforma, a startup fez uma curadoria de locais, com mapas georreferenciados, e reuniu informações que estavam dispersas em diferentes guias e fontes. Na QMTL, usuários também encontram depoimentos em diversas mídias, com segredos de quem conhece a fundo a localidade apresentada. A rota literária marca o lançamento da plataforma e é apenas uma das possibilidades que serão oferecidas pela QMTL, que em breve deve chegar à cidade de São Paulo e tem planos para todo Brasil.
Clarice, Bilac, Vinicius e outros
O projeto da Glocal apresenta a rota Rio Literário, um roteiro que abrange um número maior de escritores. A empresa de tecnologia desenvolveu a iniciativa em parceria com a guia de turismo carioca formada pelo Senac Juliana Morena, especialista em roteiros literários. Em inglês, espanhol e português, o audioguia desenvolvido pela startup, que usa inteligência artificial para fazer a narração nas línguas estrangeiras, inclui dez pontos partindo do Real Gabinete Português de Leitura, com uma pausa para café na icônica Confeitaria Colombo, outrora frequentada por nomes como o príncipe dos poetas, Olavo Bilac.
O passeio segue pelo Largo da Carioca, que aparece em crônica de Lima Barreto e termina na Casa Villarino, local que Tom Jobim conheceu Vinicius de Moraes. Utilizando geolocalização – o que faz o turista ir aos pontos de parada da rota sem se perder –, o App da Glocal Audioguide tem como objetivo levar histórias para turistas a partir dos destinos percorridos. A startup já venceu desafios internacionais da Organização Mundial do Turismo (atual ONU Turismo) e foi eleita uma das dez startups mais inovadoras do turismo brasileiro pelo Desafio Turistech Brasil, do Ministério do Turismo, além de integrar a Câmara do Turismo 4.0.
Para o gerente de Inovação da Embratur, Edivaldo Reis, o desenvolvimento das rotas é uma forma de promover a integração da economia criativa com o turismo. “Essa ação demonstra o uso da tecnologia como ponte para aprimorar a experiência do turista, gerar novos produtos, que ampliam a permanência do turista no destino e contribuem para impulsionar o desenvolvimento econômico em regiões turísticas”, elencou.