GASTRONOMIA

Ofício das Tacacazeiras é reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil

O processo de elaboração de uma das comidas mais típicas da Amazônia brasileira acaba de alcançar uma importante conquista. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) reconheceu o Ofício das Tacacazeiras da Região Norte como Patrimônio Cultural do Brasil, destacando a importância das mulheres amazônicas na preservação de saberes ancestrais ligados à culinária regional.

A decisão, que insere o ofício no Livro dos Saberes, foi tomada na 111ª Reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, integrado pelo Ministério do Turismo e composto por técnicos e representantes da sociedade civil. Prato conhecido da Amazônia, o tacacá é feito com tucupi e goma (derivados da mandioca), camarão seco, jambu e temperos, fruto da integração de práticas agrícolas, saberes tradicionais e técnicas culinárias, entre outras práticas.

O ministro do Turismo, Celso Sabino, ressalta que a iniciativa valoriza o trabalho de comunidades tradicionais, além de reforçar o potencial do turismo gastronômico no país. “O tacacá e todos os demais pratos amazônicos não são apenas alimentos, mas sim embaixadores da biodiversidade, da história e da força do povo que se orgulha de suas raízes amazônicas, tornando-se um forte atrativo para o turismo gastronômico no Brasil”, aponta.

O Ofício das Tacacazeiras é comum às sete capitais da Região Norte, com características distintas. Na cidade de Belém (PA), por exemplo, há registros literários e artísticos sobre as tacacazeiras desde o final do século XIX. A decisão do IPHAN destaca que o ofício surgiu em um contexto de crise econômica e falta de empregos formais, quando mulheres passaram a utilizar a venda de alimentos de rua como estratégia de sobrevivência e de manutenção familiar

O pedido de registro do bem começou em 2010, quando o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP) solicitou o reconhecimento como parte de um trabalho maior a respeito dos saberes relacionados à mandioca no Pará. No ano de 2024, o processo ganhou novo impulso com uma pesquisa realizada em parceria com a Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), que ouviu mais de 100 tacacazeiras nos sete estados da Região Norte.

Segundo o estudo, as tacacazeiras transformaram o preparo e a comercialização do prato no seu meio de vida, ocupando praças, esquinas, feiras e mercados das cidades amazônicas. Ainda conforme a pesquisa da UFOPA, quase 70% das pessoas que trabalham com o tacacá são mulheres, muitas delas de meia-idade ou mais velhas, que aprenderam o ofício com suas mães, avós ou sogras e hoje transmitem o conhecimento para as novas gerações.

Com o reconhecimento, o IPHAN vai elaborar um Plano de Salvaguarda, que contempla 5 eixos: gestão e empreendedorismo; acesso a matérias-primas e insumos; melhoria das condições de comercialização; divulgação cultural e gastronômica; e direito à cidade, garantindo melhor infraestrutura nos pontos de venda. O objetivo é preservar o saber-fazer e aprimorar as condições de trabalho das tacacazeiras.

A inclusão do processo de elaboração do Tacacá no Livro de Saberes se junta a várias outras práticas culinárias reconhecidas pelo IPHAN. A lista inclui o Ofício das Baianas de Acarajé; os Modos de Fazer o Queijo Minas Artesanal; o Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro (AM); as Tradições Doceiras da região de Pelotas (RS) e a Produção Tradicional e Práticas Socioculturais Associadas à Cajuína no Piauí, entre outros.

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