O presidente do Sindicato dos Pilotos (SPAC), Alfredo Mendonça, questionou hoje a liderança governamental do dossiê TAP, questionando a competência do ministro Pedro Nuno Santos, que tem a tutela da aviação e, pela forma como fala e age, também a administração da companhia.
“O que é que a tutela percebe da gestão da TAP em termos econômicos, em termos de aviação, em termos de tipos de aviões, em termos de redes?”, questionou o comandante Alfredo Mendonça, em declarações à RTP.
“Não sabemos neste momento quem realmente está a gerir a TAP. Eu tenho assistido a entrevistas que a tutela dá sobre a TAP em que fala da necessidade de despedimentos”, insistiu Alfredo Mendonça.
O dirigente sindical também argumentou que “o Conselho de Administração que temos neste momento na TAP está a fazer como faz o BCG [Boston Consultung Group], a servir de alfaiate e faz o fato à medida do cliente [que identificou com a tutela]”.
“Temos 20, 30 anos de empresa e estamos a negociar com pessoas que têm dois anos no máximo. A cultura da empresa está completamente destruída. As pessoas que construíram a TAP praticamente saíram todas. Temos agora uma nova TAP com novos modelos”, observou antes de criticar uma alegada discriminação no despedimento coletivo.
Em causa está que apenas 5% dos pilotos da TAP são mulheres, mas entre os que estão na lista do despedimento coletivo chegam a 15%.
“Um despedimento colectivo tem que obedecer a critérios, a fundamentação, e os trabalhadores, a comissão dos trabalhadores e os sindicatos devem ser informados do que se passa. E nada disso está a acontecer”, acusou também Alfredo Mendonça, que reconheceu que “a situação da TAP é muito má economicamente, não há dúvida nenhuma, e a principal culpada de tudo isto é a pandemia”.
“Mas isso não justifica que a administração, se é que lhe posso chamar administração, passada e a atual – a passada foi uma administração temporária, sem pessoas preparadas para assumir o futuro da TAP, até porque o futuro da TAP nestes últimos tempos foi muito inconstante – nada justifica o livre arbítrio e o despedimento coletivo de trabalhadores sem critérios e fundamentação económica que justifique esse despedimento coletivo”.
Alfredo Mendonça admitiu que “o despedimento coletivo está previsto no nosso enquadramento jurídico”, mas frisou que “tem que haver fundamentação e os trabalhadores têm que saber o que se passa e porque é que estão a ser despedidos”.
O dirigente sindical criticou ainda o que apelidou de “livre arbítrio” sem justificação econômica nem legal e expressou a convicção que as “providências cautelares vão suspender os despedimentos, do mesmo modo que o processo semelhante que aconteceu há pouco tempo com pessoal de cabine na Ryanair foi travado pelos nossos tribunais”.
O SPAC e os outros sindicatos que representam os trabalhadores da TAP vão avançar com acções legais para travar o despedimento colectivo que a empresa iniciou na segunda-feira, que abrange 124 profissionais.
Alfredo Mendonça observou ainda que os trabalhadores da TAP não sabem “qual é o plano de reestruturação” da companhia, que já devia ter uma resposta de Bruxelas desde Janeiro ou Fevereiro (ver também: Comissão Europeia volta a aprovar auxílio à TAP mas investiga apoio à reestruturação).