Dados revela que frigorífico JBS comprou, entre 2018 e 2022, quase 9 mil cabeças de gado com origem em fazendas de uma quadrilha de desmatadores de Rondônia.
Uma Investigação exclusiva realizada pelo Greenpeace Brasil em parceria com o portal de notícias Repórter Brasil e Unearthed, braço jornalístico do Greenpeace UK, revela que, mesmo após repetidas exposições, descobriu-se que o frigorífico JBS, detentora da marca Friboi, comprou 8.785 cabeças de gado de três fazendas com desmatamento ilegal em Rondônia, entre os anos de 2018 e 2022, e as vendeu para a Europa e EUA. O gado, em questão, vem de fazendas de propriedade de Chaules Volban Pozzebon, preso e condenado, no ano de 2021, a 99 anos de prisão por múltiplos crimes, incluindo extração ilegal de madeira, sendo considerado o maior desmatador do país, além de ter sido condenado por usar mão de obra escrava em uma de suas propriedades.
A JBS confirmou os dados obtidos e, segundo a companhia, essas compras foram registradas em seu sistema como tendo origem em uma outra fazenda, do mesmo grupo, que estava liberada pelos critérios socioambientais. As compras irregulares ocorreram durante pelo menos quatro anos, entre 2018 e 2022, sem que os sistemas de monitoramento e checagem socioambiental barrassem os negócios. O frigorifico Minerva Foods, outro gigante do setor de carnes no Brasil, também adquiriu 672 animais de uma das fazendas com desmatamento ilegal dos criminosos, ao longo de 2021.
Com tantas falhas na rastreabilidade de sua cadeia de produção, é possível que os produtos da JBS e da Minerva feitos com a carne proveniente de áreas desmatadas tenham ido parar nas prateleiras de consumidores internacionais. De 2018 a 2022, os EUA importaram 12.389 toneladas de carne bovina da JBS dos três municípios onde estão as plantas envolvidas com a ilegalidade (em Porto Velho, Vilhena e São Miguel do Guaporé). Somente Hong Kong e o Egito, país que sedia esta semana a Conferência do Clima das Nações Unidas, a COP27, compraram mais carne bovina JBS destas unidades durante este período.
Há 15 anos, o Ibama luta para que Chaules Pozzebon faça o reflorestamento dos 2,6 mil hectares da Amazônia que foram destruídos na Fazenda Rio Preto, em Rondônia. Em 2008, a Justiça deu razão ao órgão ambiental, mas a determinação nunca foi cumprida. Pelo contrário, em sobrevoo realizado pelo Greenpeace Brasil em junho de 2022, foi flagrado animais pastando na área embargada pelo Ibama. As multas ambientais de Chaules já chegam a R$ 24,6 milhões.
“Enquanto as empresas que comercializam um produto responsável por 90% do desmatamento da Amazônia continuarem apresentando planos e sistemas vagos e falhos para evitar o desmatamento na sua cadeia de suprimento, a Amazônia vai continuar em risco” afirma Nilo D’Ávila, da campanha de Amazônia do Greenpeace Brasil. Para D’Ávila, os 8 mil bois desta investigação, infelizmente, são apenas a ponta do iceberg . “Pelo bem da Amazônia os frigoríficos devem criar de imediato restrições e bloqueios para fornecedores de áreas com floresta, incluir análise de grilagem nas compras e rever todo o seu processo de monitoramento. É urgente uma moratória do desmatamento, como apontado pelo O Painel Científico para a Amazônia”, reforça Nilo.
Assessoria de imprensa Greenpeace Brasil